4º Colóquio México-Brasil promove diálogo sobre direitos, educação e diversidade

Nos dias 25 e 26 de novembro de 2024 foi realizado no Centro de Investigações e Estudos Superiores em Antropologia Social (CIESAS), em Tlalpan, na Cidade do México, o 4° Colóquio México-Brasil de professores e bolsistas do Programa de Desenvolvimento Acadêmico Abdias Nascimento no México, de que faz parte o Projeto Sertão-Mesoamérica: Ações Afirmativas, Direitos e Diversidade Epistêmica.

O Programa Abdias Nascimento tem como objetivo promover a formação e a capacitação de estudantes autodeclarados pretos, pardos, indígenas, quilombolas, moradores do campo e aqueles com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou altas habilidades, oferecendo oportunidades de qualificação em alto nível em universidades, instituições de educação profissional e tecnológica, além de centros de pesquisa de excelência, tanto no Brasil quanto no exterior. Essa iniciativa também visa fortalecer, estruturar e internacionalizar os programas de pesquisa e de pós-graduação por meio da mobilidade internacional. O Programa resulta de uma parceria entre a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi/MEC) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

O Edital selecionou 45 (quarenta e cinco) projetos conjuntos de pesquisa oriundos de instituições brasileiras de ensino superior e pesquisa, públicas ou privadas, sem fins lucrativos, prioritariamente localizadas nas regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste, ou em municípios que possuam IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) de até 0,699 (índice médio de desenvolvimento humano).

O Projeto Sertão-Mesoamérica: Ações Afirmativas, Direitos e Diversidade Epistêmica, foi um dos contemplados pelo Edital e tem como objetivo ampliar os laços entre as Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade Federal de Sergipe (UFS), Centro de Investigações e Estudos Superiores em Antropologia Social (CIESAS) e Benemérita Universidade Autônoma de Puebla (BUAP), possibilitando a realização de mobilidade estudantil e docente, parcerias de pesquisa e desenvolvimento de novas estratégias metodológicas de pesquisa. Atualmente o projeto conta com oito pesquisadoras e pesquisadores de mestrado e doutorado, distribuídos pelas unidades do CIESAS e BUAP em diversas regiões dos Estados Unidos Mexicanos.

O Projeto selecionou as pessoas contempladas observando os critérios estabelecidos no Edital 16/2023, o qual determinou que a seleção das candidaturas fosse realizada por meio da equipe do projeto, formada por um representante de cada instituição participante. Ademais, estabeleceu também que ao menos um docente da banca avaliadora deveria ser mulher ou se autodeclarar preto, pardo, indígena ou pessoa com deficiência, transtorno global do desenvolvimento ou altas habilidades/superdotação. Por fim, definiu que pelo menos 50% (cinquenta por cento) das bolsas deveriam ser destinadas a mulheres, preferencialmente, autodeclaradas pretas, pardas, indígenas ou pessoas com deficiência, transtorno global do desenvolvimento ou altas habilidades/superdotação.

A Cerimônia de abertura do 4° Colóquio México-Brasil aconteceu na manhã do dia 25 de novembro e contou com a participação de representantes da UFG, UFS, BUAP, CIESAS, Embaixada do Brasil no México e Instituto Guimarães Rosa. O Embaixador brasileiro Nedilson Jorge enviou vídeo parabenizando as instituições pela iniciativa e destacou a relevância do Programa de Desenvolvimento Acadêmico Abdias Nascimento. Afirmou ainda que se trata de uma ferramenta chave para oferecer oportunidades concretas de educação, formação e intercâmbio acadêmico a estudantes afrodescendentes, indígenas, camponeses e pessoas com deficiência.

Nos dois dias de realização do 4° Colóquio México-Brasil foram promovidas diversas mesas de apresentações e debates. Em um primeiro momento foi realizada a Mesa, intitulada Projeto Sertão-Mesoamérica: Ações Afirmativas, Direitos e Diversidade Epistémica, coordenada pela Profª. Drª Luciana de Oliveira Dias (UFG), presidenta eleita da Associação Brasileira de Antropologia (ABA). Nesse momento o projeto foi apresentado pelo Prof. Dr. Luis Felipe Kojima Hirano (UFG), sendo demonstrados dados quantitativos relativos aos estudantes contemplados pelas bolsas na atual edição. O Prof. Dr. Roberto Lima (UFS) falou sobre as relações Brasil-México na área da antropologia. Além disso, a mesa contou com a participação de egressos da primeira edição do programa Abdias Nascimento, realizada entre os anos de 2017 e 2019.

Em seguida, foi composta a Mesa 1: Educação e Epistemologias Interculturais, coordenado pela Profª. Drª Anna Benite (UFG), onde foram apresentadas as pesquisas do doutorando Samuel Douglas Farias Costa (UFG), que está sediado na BUAP, e abordou o tema Antropologia e Educação: contextos plurais em escolas urbanas. Logo depois, foi apresentada a investigação da doutoranda Gabriela Pereira Nunes dos Santos (UFG), também sediada na BUAP, com o tema “diálogos interdisciplinares para o ensino de química”. Após as apresentações foi iniciado o debate.

Já na tarde do dia 25, iniciou-se a Mesa 2, intitulada “Religiosidades e ritual” e coordenada pelo Prof. Dr. Cláudio Roberto Machado Benite (UFG). Na oportunidade, foi apresentada a pesquisa da mestranda Suyan Dionizio Alves Teles Santos (UFS), sediada na BUAP, com o tema “fortalecimento da alimentação tradicional entre as pessoas do povo Náhuatl de Cuetzalan. Na sequência apresentou-se a investigação da estudante Edislaine Oliveira dos Santos (UFS), sediada no CIESAS-Ocidente, abordando o tema “curanderismo: conexões ancestrais e saberes da medicina tradicional”. Finalizando essa mesa foi apresentada a investigação do doutorando Bruno Felipe (UFG), bolsista CAPES/TMA-CIESAS, sediado no CIESAS-Golfo, com o tema “Religiões afro-americanas no México: um registro audiovisual e pedagógico”. Logo depois, foi aberto o debate para os demais participantes.

No dia 26 teve início a Mesa 3, intitulada Direitos e Ações Afirmativas dos Povos Afora Mexicanos, coordenada pelo Prof. Dr. Ivan Deance (BUAP). Nesse sentido, foi apresentada a pesquisa do mestrando Igor da Silva Coelho Oliveira (UFG), sediado na BUAP, com o tema “Estudo comparativo de ações afirmativas e direitos de povos afro-mexicanos. Na sequência apresentou-se a investigação da mestranda Josileide Veras de Sousa (UFG), sediada no CIESAS-Peninsular, abordando o Tema “O Racismo da Política e a Política do Racismo”. A mesa foi finalizada com a investigação da doutoranda Lucinete Aparecida de Morais (UFG), sediada no CIESAS-Sureste, abordando o Tema “La mirada de las campesinas de San Cris nuevas grafias audiovisuais e antropológicas".

No período da tarde deu-se início à Mesa 4, intitulada Ações Afirmativas, Direitos e Diversidade Epistémica: Arqueologia, Antropologia e Direitos Humanos, coordenada novamente pelo prof. Dr. Ivan Deance. Nesse momento, possibilitou-se a participação online de Lorena García (UFS), que apresentou também sua investigação. Em seguida, a Profª. Drª Luciana de Oliveira Dias, especialista nos temas de relações étnico-raciais, ressaltou a importância de garantir a participação de pessoas negras nos espaços e comentou sobre a necessidade de considerar pensadores afro-diaspóricos, tal como a intelectual negra Lélia Gonzalez. Essa mesa também contou com a participação da Profª. Drª Regina Martins (CIESAS) que destacou a importância de assegurar a presença dos estudantes indígenas no ensino superior e reforçou a relevância das trocas possibilitadas entre os bolsistas do Projeto Sertão-Mesoamérica e os estudantes mexicanos.

Em seguida ocorreu a mesa 5, intitulada Ações Afirmativas, Direitos e Diversidade Epistémica: Antropologia, Museologia e Ciências Exatas, coordenada por Luis Felipe Kojima Hirano (UFG). Na oportunidade o prof. Dr. Roberto Melville (CIESAS) apresentou alguns catálogos e ferramentas de pesquisa, onde estão disponibilizados trabalhos acadêmicos com enfoque antropológico. A profª. Drª. Ana Karina Calmon (UFS) também fez reflexões importantes sobre o projeto. Finalmente, a Profª. Drª. Anna Benite (UFG) apresentou notável demonstração sobre a presença das relações raciais no estudo de química.

O colóquio foi finalizado com a mesa de encerramento, composta pelos coordenadores do projeto Prof. Drª. Mariano Báez (CIESAS), Prof. Dr. Luis Felipe Hirano (UFG), Prof. Dr. Roberto Lima (UFS) e Prof. Dr. Ivan Deance (BUAP), que comentaram sobre a proeminência da realização do evento e sua continuidade com as próximas edições. Em seguida a palavra foi passada novamente às professoras Profª. Drª. Luciana de Oliveira Dias e Profª. Drª. Anna Benite que comentaram sobre as impressões que tiveram sobre o evento, destacando sua relevância e pontos de melhorias para as edições subsequentes.

O 4º Colóquio México-Brasil destacou o protagonismo das pesquisadoras e bolsistas negras e negros na efetivação de políticas públicas e acadêmicas para a promoção da igualdade racial e de gênero com vistas a uma produção científica cada vez mais pluriepistêmica. Esperamos que no próximo colóquio tenha a presença de bolsistas indígenas e com deficiência, bem como pesquisadores e estudantes negros e indígenas do México.