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Saberes das lutas do movimento negro educador

Secretaria de Inclusão (SIN/UFG) realiza lançamento do livro no 19° Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão (CONPEEX). 

A atividade, que faz parte do Novembro Negro Unificado da Universidade Federal de Goiás (UFG), foi realizada no palco principal do Centro de Cultura e Eventos Professor Ricardo Freua Bufáiçal, no dia 23 de novembro de 2022. 

O livro "Saberes das lutas do movimento negro educador" é de organização da Profa. Nilma Lino Gomes e foi escrito em parceria com algumas coautorias de grande relevância nos enfrentamentos ao racismo e às discriminações correlatas, dentre elas a Secretária de Inclusão da UFG Profa. Luciana de Oliveira Dias e a Profa. Regimeire Oliveira Macial, da Universidade Federal do ABC (UFABC), que compuseram a mesa na cerimônia de lançamento. A conversa foi mediada pelo Secretário de Inclusão Adjunto e Diretor de Ações Afirmativas da UFG, o Cientista Social Pedro Rodrigues Cruz.

Sobre as lutas do movimento negro, a Profa. Nilma Lino Gomes comentou "O movimento negro nos reeduca sim, o movimento negro é um educador e ele é um educador que reeduca a si mesmo, reeduca a sociedade, o Estado, a educação, seja a educação básica, seja o ensino superior. E nesse processo de reeducação todos nós, negros, brancos, indígenas, de qualquer grupo e pertencimento étnico racial, apreendemos. Aprendemos sobre as relações raciais no Brasil, aprendemos mais sobre nós mesmos, país Brasil, aprendemos sobre a nossa ancestralidade africana e como ela se dá. E ela é recriada e ressignificada no Brasil ao longo de todo esse nosso processo histórico. Nós também somos reeducados nessa luta que o movimento negro constrói na sociedade brasileira, a entender quão perverso é o racismo e quão perverso é o tipo de racismo que se instalou historicamente na sociedade brasileira e contra o qual hoje nós construímos políticas de superação do racismo e políticas de igualdade racial. Eu costumo sempre enfatizar que esse tipo de racismo que se construiu no Brasil é diferente de outros que se construíram no resto do mundo, porquê aqui é um racismo que abarca, ele carrega dentro de si uma ambiguidade. O que é essa ambiguidade? É a capacidade que ele tem de se afirmar pela sua própria negação".

Na oportunidade a Profa. Luciana Dias explicou as principais motivações que a levam a escrever: "O que me levou a escrever sobre o tema decorre da percepção de que quando a gente acessa alguns espaços há uma escassez da presença de pessoas que sejam iguais, de pares. A sensação que eu tenho, falando como doutora, professora universitária, é que eu sou a única, ou a primeira em muitos espaços. A Regimeire acabou de falar 'eu sou a primeira de uma família a estar fazendo um curso superior' e eu também tenho sido a primeira que entra em determinados espaços. Por exemplo: Eu sou antropóloga, integro a 'ABA' que é a Associação Brasileira de Antropologia e que é a associação científica mais antiga do Brasil no campo das Humanidades, a ABA tem sessenta e oito anos. Hoje eu sou diretora da ABA, eu sou a primeira mulher negra diretora da Associação Brasileira de Antropologia. Isso soa como muito interessante, só que para a mulher negra que ocupa esse lugar há uma sobrecarga, há uma dor, há um sofrimento, há uma sensação de solidão que é terrível e que pode suprimir talentos, pode ocultar potencialidades, é cruel. Está mais do que na hora de a gente tornar esses espaços verdadeiramente plurais. Olha só o tempo que a gente está perdendo, me pergunto por que a gente segue ainda fora de espaços de tomadas de decisão, espaços de poder? Por que esses espaços seguem tão homogêneos? Por que a gente não tem representatividade da diversidade que constitui a sociedade como um todo nesses espaços? Quando escrevo sobre o movimento negro educador, quando eu escrevo sobre epistemicídios, quando eu reivindico o direito de ter reconhecido o saber e epistemologia negra no espaço de produção de saberes como a universidade, é pra problematizar a ausência, ou a presença pouco representativa e acabar com a exceção que corpos como o meu ocupam. Não quero mais ser a exceção, não há justiça social e não há reparação quando a diferença é exceção. Enquanto a exceção continuar sendo exceção a discriminação corre solta, porque a exceção confirma a regra e ela não subverte uma realidade. O que eu quero é que espaços como este sejam diversos e plurais".

Quanto à inclusão de pessoas negras, a Profa. Regimeire explicou "Todos esses nossos alunos que estão entrando, nesses vintes anos, que entraram, que já saíram e os outros que entrarão, né?! Porquê agente tem esperança que a lei de cotas seja aprovada. Eu não quero que esses alunos não se vejam, que eles sejam barrados, que eles sejam tolhidos. Porque a minha geração e geração da Luciana, por exemplo, enfrentou muitas questões 'Ah, isso aí não é ciência. Ah, esse negócio aí é militância'. Eu não quero isso se repetindo, porque isso é um posicionamento no mínimo desrespeitoso e no fundo isso é racismo. Então eu vivi, vivenciei uma experiência na universidade em que uma aluna minha na pós graduação, uma orientanda minha, enfrentou isso com uma professora na aula de metodologia dizendo que o trabalho dela não era bom, que não tinha nada com a economia política mundial, e era uma discussão sobre gênero e raça. Então isso não é pra se repetir, que as pessoas não vão deixar de ser racistas a gente sabe, o racismo não desaparece assim. Mas enquanto você está na gestão, você é professor, você é gestor, você é coordenador, você tem que minimamente respeitar".

Fica o convite para a aquisição do livro e para que sigamos aprendendo com as lutas do movimento negro educador. 

Você pode acessar todas as imagens da cerimônia de lançamento do livro clicando aqui.

Lançamento do livro

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