Dia do Orgulho Agênero
Tão diversa quanto as cores que vemos é a identidade de gênero.
Enquanto alguns se identificam com gêneros binários, como homem e mulher, outros se identificam com gêneros não binários, ou gênero nenhum, como o agênero. Pessoas agêneros podem identificar-se com o termo guarda-chuva não-binário, que abarca outras identidades que não são cisgêneras, ou como transgêneros, por não se identificar com o gênero que lhes foi designado ao nascimento. Ageneridade não é um gênero, mas sim uma identidade, então significa não se identificar com gênero nenhum. Para esta comunidade, ser agênero é fugir das regras de dualidade impostas pela sociedade, do que é correto ou viável ser. É liberdade para expressar-se como bem quiser sem estar preso às expectativas de gênero.
A complexidade da identificação pode estar na ação automática de identificar o gênero de alguém, para saber como se referir a tal, mas não se tem certeza de como fazê-lo. Neste caso é apenas questionar. A expressão de gênero nem sempre está em conformidade com o que compreendemos enquanto seres criados numa sociedade predominantemente binária e cisgênera, então, se há dúvidas, pergunte como a pessoa se identifica. Não será necessariamente elu/delu, podem ser outros pronomes, mas o mais importante é deixá-la confortável e tratá-la como ela se sente melhor.
E como dia do orgulho agênero, nada para representar melhor do que a bandeira. A mais conhecida, com listras horizontais pretas, cinzas, brancas e verde, foi criada por Salem (usuárie transrants no Tumblr). O preto e branco simbolizam a completa ausência de gênero; cinza simboliza a ausência parcial; verde representa a identidade agênera. Para Salem as cores utilizadas representam todo o espectro de gênero, e o verde, sobretudo, foi escolhido por fugir da regra do azul e rosa, que popularmente representam gêneros binários.
Desde a formação embrionária, várias caixinhas vão sendo criadas para inserir o indivíduo que ainda está por chegar ao mundo. A depender do sexo biológico, assume-se o gênero e, por conseguinte, características como a cor das roupas ou corte de cabelo, mas também são pré determinados comportamentos, o lugar desse indivíduo no mundo e seu papel social. Tudo isso a partir da presunção do gênero. É sabido por muitos que, posteriormente, o indivíduo pode acabar por não se identificar com o gênero que lhe foi atribuído no nascimento, identificando-se com outro. Porém pouco se sabe que existem pessoas que percebem não se encaixar nas categorias de gênero: esses são os agêneros.
“Agênero” não é um gênero, afinal não há identificação com algum deles ou mesmo com a concepção de gênero, o termo refere-se a uma identidade, uma forma de se ver no mundo e de se construir como sujeito sem as amarras que as definições de gênero podem ter. A primeira menção de ausência de gênero como uma forma de identidade aconteceu, ao que se sabe, em 1997, em um artigo no International Journal of Transgenderism (um jornal acadêmico que cobre tópicos de transexualidade, travestismo, disforia de gênero e tópicos relacionados), apesar de que esses indivíduos sempre existiram. Muitas caixinhas ainda precisam ser desconstruídas, para que consigamos dar voz e equidade a identidades diversas. O seu primeiro passo talvez seja perguntar e respeitar sempre como a pessoa deseja ser tratada.
A invisibilização ainda é grande e esses sujeitos lutam para serem mais vistos na sociedade. Decisões judiciais favoráveis vêm sendo tomadas, como o precedente de 2021, que possibilita a averbação do registro civil com o nome desejado e os termos “não identificação” no campo “sexo”. Porém, como consequência da invisibilização de indivíduos fora do binarismo de gênero, essas informações são pouco compartilhadas, dificultando que a adequação seja colocada de fato em prática e até mesmo que as pessoas saibam de seus direitos.
Ser agênero é ser livre para ser quem quiser, uma vez que não está em conformidade com o que lhe é imposto, é estar fora da caixinha. Ter orgulho de si é poderoso. Como dito por Cup, youtuber e pessoa agênero, em uma entrevista ao TODXS: “Não há um jeito de ser agênero. Mas há um jeito de ser você e esse jeito é sendo sincere consigue mesme”. Celebre sua forma de viver, você é válide!
Categorías: NOTÍCIA