abolição da escravatura

Estamos, de fato, libertos?

Em 13 de maio de 1888 a lei da abolição da escravatura foi assinada. Na teoria a liberdade foi concedida, mas e na prática? 

A Lei Áurea previa a libertação para pessoas negras escravizadas, porém não foram desenvolvidas políticas de proteção e amparo para os negros que se viram sem nada assim que saíram da casa dos senhores escravocratas. Sem bens e sem sorte, os negros libertos recorreram às regiões mais afastadas das cidades para tentarem sobreviver.

Esse descaso por parte do governo, que não foi dirimido com a República, aliado ao histórico de dominação de um povo sobre o outro, culminou em décadas posteriores de miséria, preconceito e racismo estrutural. São fatores tão intensos e tão fortemente propagados que, apesar de um século de abolição da escravatura, ainda sofremos com as consequências no presente. O que faz questionar, estamos de fato libertos? Se ainda estamos à mercê de um sistema que nos sobrepuja, nos oprime, tira nossos direitos e nos impede de viver dignamente. Esse sistema submete a população negra a um processo de segregação, atos de violência e morte. Então não estamos tão livres assim das amarras. São violentas amarras invisíveis e sutis, que nos prendem no local onde pensam que devemos ficar: sem perspectivas de futuro e sem possibilidade de mudar a própria realidade. Amarras que causam tremendo impacto.

Isso quer dizer que esta luta por liberdade ainda não acabou, a luta por uma vida igualitária não chegou ao fim. É tão antiga e ao mesmo tempo atual, que é necessário conscientizar a própria população negra, para voltar a atenção para si e perceber a desigualdade social que sofremos baseada em preconceito de raça. É necessária uma tomada de consciência e se revoltar contra as injustiças, afinal, de que adianta um corpo liberto, mas uma mente escravizada? Liberdade é mais que um estado físico, é algo que se busca, que se conquista, e não algo que é cedido.

 

Opinião...

 

Sobre o tema o estudante Jeronilson Quirino da Silva, Quilombola Kalunga da comunidade Vão do Moleque, município de Cavalcante Goiás, que ingressou pelo programa UFGinclui em 2017, comentou:

"Durante 300 anos desde o começo da colonização portuguesa na América, a escravização de seres humanos vindos do continente africano foi uma atividade que trouxe grandes lucros para os portugueses. As feitorias instaladas na África portuguesa praticamente só viviam deste comércio, a escravidão era vantajosa para todos, uma vez que era baseada em trabalhos forçados e sem remuneração para os escravizados. Durante o período colonial todas as tarefas braçais eram baseadas na mão de obra escrava. No final do século XIX, no entanto, o mundo consolidava o modo de produção industrial, onde a força humana já não era imprescindível, nesse período o regime escravocrata entra em decadência.

Entretanto, vários países europeus declaram extinta a escravidão, da mesma forma os abolicionistas negros alforriados e o Reino Unido pressionaram o governo Brasileiro a abolir a escravidão, no dia 13 de maio de 1888 o senado se reuniu para discutir a lei da abolição que saiu aprovada. Imediatamente o documento foi levada para o Paço Real do Rio de Janeiro naquele ano, onde a princesa Isabel filha de D. Pedro II como regente do império naquele período aguardavam para sanciona-la.

A lei concedeu a liberdade total para os escravos, que eram no Brasil aproximadamente 700 mil e também resultou em uma vitória dos conservadores que aboliram a escravidão sem pagar indenização para os fazendeiros. Para a família imperial constituiu uma perda no apoio político, para os escravos a liberdade, ainda sem integralização social. Ao lado de senadores como Emanoel Pinto de Souza e outras autoridades do império, a regente assinava a lei Áurea que declarava extinta a escravidão no Brasil.

Antes da lei Áurea três leis focaram na extinção do trabalho escravo no Brasil, a lei Eusébio de Queiroz promulgada em 4 de setembro de 1850 pelo mesmo ministro, o intuito era acabar com tráfico de escravos transportados desde a África nos navios negreiros. Lei do ventre livre promulgada em 28 de setembro de 1871 que concedia liberdade a partir daquela data para todos os filhos de mães escravizadas e a Lei dos Sexagenários, promulgada em 28 de setembro de 1885 na qual dava liberdade aos escravos com mais de 60 anos.

Dessa forma, o Brasil foi o último país ocidental a abolir a escravidão. Com a assinatura da lei Áurea, os latifundiários tiraram o suporte do imperador, eles não concordavam e não receberam nenhuma indenização pelos os escravos libertos. Contudo, depois da lei sancionada, ainda se encontravam ex-escravos trabalhando para seus senhores em troca de comida, ou seja, não foi elaborada uma política pública que garantia um terreno para moradia, fazer plantio ou até mesmo um auxílio para garantia da sobrevivência".

 

Elaborado por

Jeronilson Quirino da Silva

Jeronilson

Categorias: NOTÍCIA